Por mais que neste mundo existam pessoas com as quais possamos desfrutar o néctar da amizade...Por mais que existam amores, e que neles possamos sentir a plenitude da vida...A solidão, somente ela, é capaz de nos remeter à verdadeira dimensão da nossa existência.
Quanto mais fugimos da solidão, companheira inseparável do existir humano, mais nos distanciamos de nós mesmos, da nossa realidade existencial.
Quando o pano cai, e cessam os aplausos, é na solidão de sua própria companhia, que o ator, antes venerado, busca o seu refúgio.
É no apagar das luzes, no fechar das portas, que o ser é lançado de encontro a si mesmo, e “ai” daquele que não estiver preparado para este derradeiro confronto... Em agonia se verá, buscando desesperadamente, formas de fugir de si, da sua solidão e da sensação incômoda da sua existência.
Existem aqueles que, na vã tentativa de fugir dessa amarga companheira, recobrem suas vidas de recursos mirabolantes, cercam-se de pessoas, de objetos que imitam vozes, produzem imagens e, no meio de tudo, vêem-se sempre de mãos vazias, sem encontrar jamais o que procuram. Perderam-se pois, de si mesmos, e passaram a culpar as pessoas, pois não o compreendem. Culpam o som de insuficiente, a imagem de inadequada, o poder de incompetente, e continuam a viver, imersos em sua amargura.
Mas existem aqueles que, depois de tudo tentarem, se rendem à sua presença inevitável: percebem-se sozinhos. Abandonados, irremediavelmente incompletos, solitários. E, a partir da solidão, se abre um imenso universo de possibilidades. A solidão lhes revela que neles está o poder da vida, a chave do prazer e a força do existir.
A consciência plena e profunda da própria solidão, condição inerente à existência humana, empresta à pessoa um novo alento, abre o canal de uma aprendizagem real sobre o existir, o ser gente, o ter sentimentos, sobre o sentir a dor e, a partir disso, poder realmente sentir e expressar o amor. Esta pessoa sabe também, que o vazio jamais será pleno e completamente preenchido, pois sabe que a energia só se movimenta no espaço, no vazio. E sabe também que a solidão lhe permite sentir intensamente e desfrutar completamente a presença, mesmo que frugal, do prazer e da plenitude. A partir desta compreensão não precisa mais desenvolver vínculos dependentes e opressores com as pessoas, pois já não precisa mais delas como instrumentos para afastá-la da sua própria solidão. Já convive com ela e sabe ser a solidão, a sua única morada definitiva.
Mariliz Vargas
Este post está simplesmente lindo e verdadeiro!
ResponderExcluirParabéns, Mariliz!...
Obrigada!
ResponderExcluirum abraço
Mariliz