“Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens e dá-lo aos pobres, e terás um tesouro no céu: e vem, e segue-me” (Matheus 19, 21)
Não há como querer atingir a própria essência, e viver de acordo com aquilo que se é, se estamos apegados ao poder da imagem, da posse, do título ou seja o que for que valorizamos como símbolos de quem somos.
É preciso desapegar-se da prioridade das posses, dos adornos, da ostentação mental, das imagens de si mesmo, para poder atingir aquilo que é essencial, trazendo ao Ser a força e a pureza de manifestação.
O desapego é tantas vezes mal compreendido, pois para muitas pessoas passa puramente pela questão material. Mas, o maior apego é o que se encontra instalado no coração do ser humano. O desapego é o avesso do poder, é a prática da fé que se entrega inteiramente à vontade Divina. Este é o verdadeiro caminho da espiritualidade.
Mas, o que observamos hoje em dia, é o inverso deste processo naqueles que se dizem “detentores do conhecimento espiritual”. Acumular conhecimentos sobre a espiritualidade, ver-se superior ao semelhante por dominar esta ou aquela doutrina, é uma contradição de termos. É preciso desapegar-se dos conceitos para poder viver na pureza e na integridade o momento presente, em igualdade com nosso semelhante, sabendo que nossa condição humana nos iguala e é através desta vivência que nos tornaremos cada vez mais espiritualizados.
Encontramos muito também, o apego ao outro, a necessidade de apoderar-se de outro ser humano como garantia do bem estar e da tranquilidade interior. Este caminho mostra-se, na totalidade das vezes, uma grande armadilha. O que acaba acontecendo à pessoa que se apega ao outro como se dele precisasse para
estar vivo, é a criação de um terreno fértil para sentimentos de inveja, de ciúme, de medo de perder, de raiva e desamparo. O apego ao outro confunde amor com voracidade, e arremessa a pessoa na ilusão de sua fraqueza perante a vida, tornando o seu cotidiano uma vivência difícil para todos os envolvidos.
Mariliz Vargas